sonhei que era um frasco (ou o líquido dentro dele) numa prateleira no laboratório de um alquimista maluco
havia outra pessoa-frasco ao meu lado, mas não conseguíamos nos falar direito porque o som ficava abafado pelo vidro, tipo aquele jeito de falar dos adultos do snoopy, wah wah wah wah wah, sabe?
nós tínhamos formatos diferentes, formatos de peças de xadrez (?), e nossos líquidos eram de cores diferentes. pensando bem, acho que éramos essências em uma perfumaria
o alquimista-perfumeiro estava de costas para nós, e trabalhava, incansável, em alguma coisa que aparentemente exigia a totalidade de sua atenção
ele tinha um chapéu azul de bruxa, torto na ponta (eu sei, que cliché, mas eu não sou figurinista dos meus sonhos) e nós o observávamos de cima, pois estávamos na última prateleira, talvez por sermos essências importantes demais, pensei. mas eis que o surgimento de uma dúvida na minha consciência de frasco fez o sonho começar a se desmontar em escombros oníricos: e se nós estivéssemos na prateleira de cima não por sermos importantes, mas justamente o oposto, por termos uma utilidade tão rara (se tivermos) que ficamos esquecidos num lugar que o alquimista nem alcança? de repente percebo (?) que o vidro dos frascos está empoeirado e sinto uma pressão sinistra dentro de meu corpo-receptáculo de vidro (?) e encontro meu caminho de volta à vigília
acordei como se tivesse tomado uma xícara de café (mas fiz café mesmo assim)
anotações posteriores sobre a sensação física de ser frasco:
1- bucho quente e borbulhante, parece azia
2- uma sensação de vento parado (?)
3- parece que não há cabeça nem músculo, mas osso sim
4- ser uma entidade estacionária paradona sem articulação nenhuma não era incômodo, não era nem mesmo uma questão
5- um perfume inebriante de café, maracujá e canela
soneca continuante:
eu aqui, querendo tanto ser notado pelo alquimista, querendo que ele use um pouquinho de mim na sua mistura, querendo fazer parte da totalidade do universo de aromas que ele cria agora... mas... e se na verdade nós, pessoas-frascos, somos o produto final de sua experiência? e se seu trabalho, que não enxergamos, for, na verdade, engarrafar as pessoas? quando eu descobrisse isso, perceberia então que todo o meu amor e desejo pelo alquimista era na verdade um grande erro, que ele é meu vilão, não meu herói, e eu teria aquele gosto de realidade arregaçada bem típico dos contos do lovecraft
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