bibelô de menina no quarto rosa sustenta a ilusão de que se é algo quando na verdade a única certeza feminina é a do não-ser.
Legal falares isso, chega exatamente no ponto chave. Tipo, em metáforas bíblicas: o adão sabe que não é pra comer a fruta (porque disseram pra ele), mas ele vê que a eva comeu e deu pra ele comer; ele confia. Ela tem uma costela dele, afinal. E ele não pode acreditar que ela esteja agindo de forma incorreta. Na verdade, ele não quer acreditar. Ele investiu tanto! Uma costela! Está disposto a comer a maçã para provar que seu investimento é genuíno e incondicionado. Adão costuma gostar de suas feituras, afinal.
Mas ela não estava lá pra ver a costela ser tirada. Ela não viu todo o sangue da cirurgia, digamos assim. Ela simplesmente foi jogada num mundo e foi dito a ela que ela é dele, e que é isso, contente-se. E é impossível pra ela contentar-se com isso. E disso o adão não sabe.
ou porque é burro, ou porque é teimoso, insistente, esperançoso, tolo.
Como se fosse assim:
Enquanto ela tá falando das coisas de forma totalmente narcísica e autoenganosa, eu sei, e penso "bo-ring". E penso que tudo bem, é natural. Porque eu sei que, no fundo, a mulher quer acreditar naquilo. São as angústias dela, afinal, e não podem ser descartadas arbitrariamente.
A arbitrariedade é justamente o problema masculino, parece. Essa doidice de ser juiz, de esmagar o desejo feminino. Tipo como os japoneses fazem, saca, com todas as taras sexuais deles, presentes na pornografia. São sempre fantasias de dominação esmagadora.
A mulher causa um medo oceânico no homem. É muito difícil ser homem. muito sofrimento. muito sofrimento calado. sem direito a sofrer, sem permissões. só existem sanções pro homem. O gozo feminino é mais ou menos um pesadelo pro homem.
E aí quando ele vê a mulher vindo com a maçã, e dizendo "tá tudo bem", eis o calcanhar de aquiles do adão. Ele quer muito que esteja tudo bem, que tudo dê certo. Como uma criança.
e não vai ser assim. Porque ela não é mãe dele, sabe.
Agora saindo das metáforas bíblicas, é como se eu visse ela sendo manipuladora (e as mulheres em geral), mas tipo, tudo bem, não tem problema, porque eu acredito que haja sinceridade nisso também. Numa angústia que força a menina a manipular o menino, com o cenário e a produção, o figurino, a vitrine, a micropolítica, tudo. E ele acha até bonitinho, tipo: "olha até onde ela é capaz de ir por mim (e/ou por sua insegurança)".
Mas era realmente só um "conseguir" que existia lá. Uma mesquinharia feminina braba: sem acesso à criança-ela-indefesa. O único acesso era à eva-succubus-napoleônica (com maçã). A criança tinha morrido (pelo menos pra mim). Eu me tornara apenas um item no repertório psíquico dela, de organização das vaidades.
Apenas mais uma costela no seu corpo par.
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