quinta-feira, janeiro 14, 2016

fotos da nossa filha

Na comemoração do dia em que me arrancaram do corpo da nossa mãe,
estávamos na laje.
Eu estava em uma singular;
tu estavas em uma plural

E tu esqueceste de me falar qualquer coisa, talvez de propósito, talvez só mais nada, mesmo.
Não seria a primeira vez que tu nem tchum (não sei se te agradeço ou te amaldiçôo por isso).
Qualquer coisa não serviria para nada. Como posso ser mais forte do que eu?

Vou te dizer que essas lajes
são lugares que irmãs freqüentam.
Sou tua irmã, como não seria?

Voltei aqui pra te dizer que o lejes
é a verdadeira laje do mundo (tu bem sabes, fomos lá juntos).
Hoje sobram algumas fotos da nossa filha para comunicar qualquer coisa;
Elas não servem pra nada.

Parece:
a) Que havia tudo para darmos certo; Todos os astros em consonância; Os códigos funcionando; Tínhamos a habilidade para tanto.
b) Que estávamos mesmo fadados a dar errado; Era isso que estava escrito nas estrelas; Era o que os códigos diziam, depois de uma tradução minuciosa; Diziam que nossa habilidade era a de dar errado.

Jogamos um jogo cuja condição de vitória reside na derrota dos jogadores. Uma narrativa de regras que, enquanto acompanhadas, joga-se, mas, quando finalmente compreendidas, percebe-se, junto, que o objetivo do jogo era apenas parar de jogar.

talvez, mas como é possível
que nada mais me lembre você?