Tristão encontra a bruxa Gertrudes e passa pelo antigo ritual de sabatina ontológica
T: Se paro para contar uma história para mim mesmo
G: Se te emocionas
T: Narrativas sobre como criar uma criança
G: A importância da educação
T: Narrativas sobre aprender a desenhar
G: Como eu desenho?
T: Narrativas sobre começar a tocar
G: Como eu comecei?
T: Narativas sobre uma espécie de tutela que recebo, que procuro também, como se existissem mestres espalhados pelo mundo e coubesse a mim reunir seus conhecimentos, sem que eles soubessem: O mestre da montanha; o da terra; o dos ventos; o dos rios; o do fogo
G: É a jornada de um espírito livre, que nasceu para conhecer, decifrar, incendiar. É também a aventura egoísta de um corpo privilegiado
T: Se crio essas histórias e vivo dentro delas
G: Se teu mundo interno é formado disso, de invenções vazias
T: Devo abraçá-las para que exista chance de materializá-las? Devo nutrir essa espécie de fé, que tantas vezes me recompensou, que tantas vezes materializou meus desejos mais profundos? Ou seria isso apenas uma invenção vazia, uma história que conto para mim mesmo e essas coisas teriam me acontecido independente da minha fé? Seria possível parar de viver minhas próprias histórias e realmente me abrir para a voz do outro?
G: O outro tem uma voz que chacoalha o ar com vibrações mecânicas. A voz que estás acostumado a dar ouvidos é falada e ouvida antes mesmo de decolar aos ventos e se fazer física. Só tu falas, só tu ouves
T: O que eu faria, então, sem a história que me contei tantas vezes, sobre não estar sozinho? E o que devo fazer com essa história, agora que não me lembro mais como contá-la?
G: Como eu, que nunca a aprendi? Não consegues ver que sempre estiveste sozinho, fora da história, contando-a pra ti mesmo, enquanto eu estive sempre sozinha, dentro dela, te esperando?
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