terça-feira, janeiro 29, 2013

decriptando

eu vejo teus desenhos e em cada um deles eu tenho vontade de chorar. e tu agradeces o elogio de artista, mas quando eu falei disso, ficaste puta. eu não vou aguentar ver teus desenhos depois que tiveres ido. passaste o final de semana inteiro desenhando, e eu, e eu, e eu, e eu, e eu não. eu fiquei sendo desenhado, porque sou uma caricatura. que droga. mas também tive minhas glórias. eu poderia dizer que há coisas exclusivas a mim por algum motivo de selvageria moral. mas isso é mentira. a verdade é que o que eu sei fazer é testemunhar. e o que tu sabes fazer é desenhar. e desenhar é ver e testemunhar é prestar depoimento.


eu tirei a rede da minha janela, era horrível e atrapalhava a vista do sol. não a minha vista do sol, a vista que o sol talvez tenha de mim, sabe. ele veria que eu fico aqui fumando, esperando ele. acho que ele iria gostar de mim. porque ele é impiedoso, e os impiedosos costumam gostar de mim. sem a rede na janela, a manhã é iluminada, tanto que às vezes acordo cego! e me lembro de ti. a luz é tão forte que antes mesmo do meio dia dá pra usar a lupa do papai pra acender o meu cigarro com um raio concentrado de luz solar. penso que esse é um uso bem racional do sol. sol e razão se tornam a mesma coisa nessa hora. agora eu vejo as nuvens de manhã, e é lindo. aqui em belém tem essas nuvens rosas quando nasce o sol.
só que não é rosa, é alguma cor.
tu saberias ver essa cor.
eu saberia testemunhar o teu ato de ver essa cor que eu te mostrei.
e eu te prestaria um depoimento.
e aí tu desenharias com razão.