terça-feira, fevereiro 24, 2009

Oceano

Se o sal na água
do oceano e do mar
sem eles formar
for água sem par,

O sal da maré
se força a afirmar
que a força do mar
é o par que me é

Se mar for alma
se ela for mar,
Se transformar
nós dois em calma,

A calma do mar
me exige trocar
seu artigo viril
de o mar para amar

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Deus te curou?

Pois eu fui curado.

Hoje posso dizer: O miasma que me engoliu por 4 anos se dissipou nas nuvens. Só sobrou aquela lembrança do sabor da fome e sede que senti, mas agora estou saciado, mudei de paladar e me alimento em outros territórios, e janto com outras louças, e engulo com outras salivas. Sou um observador adulto, um voador arguto, um caçador ágil, perspicaz e bimbador. Parabenizem-me, senhores, e gozem de um amigo em paz. Congratular-me-ão eternamente, pois livrar-se daquele perfumado miasma sem perder o olfato é algo para poucos, para os poucos que conheceram tal malévola doença, para o único que curou-se e permaneceu são, pois são muitos no submundo, e eu não, porque eu sou são, e eles não são, não.

domingo, fevereiro 15, 2009

lembrete frustrante

deus odeia seu povo mas faz o melhor trabalho possível por ele, porque qualquer trabalho que ele faça é o melhor trabalho concebível.

meu deus, eram 2 páginas, que frustrante

sábado, fevereiro 07, 2009

Azectone.

Sabe, Gertrudes, o verdadeiro amor é como uma azeitona. Posso não ter comido todas as coisas do mundo, mas eu estou certo quanto ao esgrimismo superior da azeitona. Não é apenas o sabor, é algo espiritual que há no exato momento em que eu cravo os dentes na polpa, uma certeza de que aquele momento me reserva uma liga, um surrealismo de sabor, seguido da épica ardência que se abate em meu esôfago, meu ventre, meu corpo todo; os espólios da guerra; a Azeitona.

É claro que tu não entendes, tu não podes entender. Entender a sensação contradiz a verdade da Azeitona.

E toda verdade é menor do que a Azeitona.

domingo, fevereiro 01, 2009

Nesse dia tremendamente produtivo, devo dizer que adoro títulos longos e herméticos.
Devo dizer também que há casos em que minha convicção se torna autocontrole, para a minha infelicidade.
Uma coisa boa é que meu autocontrole talvez funcione melhor do que a minha convicção, apesar dos meus pensamentos pessimistas e negativistas, que é de praxe dos bons homens.


Só pareço dar errado, na verdade, estou mais certo do que eu mesmo, com todas as interpretações que essa afirmação pode acarretar.

A bela cena da transformação de um herói em cúmplice de um verdadeiro vilão.

Há algo no destino reservado para cada um de nós. Algo que nós faremos, e, por isso, algo que nós devemos fazer. Devemos fazer porque faremos de qualquer forma, mesmo que não façamos.

Veja bem, eu só fiz isso, nada mais. Percebi que o meu papel é esse, e não tive outra escolha a não ser assumí-lo. Entenda que, aqui, entre nós dois, não há maldade maior do que a que obrigatoriamente será feita, não há uma escala, não há comparações. As atitudes se bastam, são independentes. As atitudes são o que são, quaisquer valores, qualquer ética, qualquer moral demonstra tolice. Deus me colocou aqui na tua frente, grande herói, para que eu te mostre isso. Ou tu poderias ser um grande herói sem entender a Divina Malícia?

Não há herói maior do que eu, meu caro. Eu vim aqui para ser o teu adversário, o teu algoz, a tua vítima, o teu tentador, o teu próprio Deus. Deus sim, pois te dou a oportunidade de ser um herói ou um vilão, pois no mundo só há desses dois tipos. Ah, e os macacos.

Sabe, minha mulher chamava o povo de "gado". Eu chamo de macacos. Sabe por quê? Porque macacos fazem barulho, são inquietos e irritantes. Os macacos se alimentam de bagunça, e são inteligentes só para os cientistas, porque são tão burros e previsíveis quanto qualquer ser humano. Com exceção dos heróis e dos vilões, é claro, e eu já voltarei a esse tema.

Primeiro, hei de falar do gado, em homenagem à minha amada esposa, que Deus a tenha. Ela gostava da palavra gado porque achava o povo organizado e dócil, controlável e desperdiçável. Ela controlava os homens como um pastor organiza as ovelhas. Eu não entendo isso, eu não gosto disso. Talvez eu seja menos habilidoso do que ela, e por isso não veja o povo como gado, mas eu prefiro pensar que sou mais humano, e, portanto, me relaciono com mais humanidade nos assuntos humanos.

Lembra dos heróis e vilões? Que não são como os macacos? Pois é, os heróis e vilões são tão bobos quanto os macacos, já que todos nesse mundo são bobos, comparados a Deus. O que nos diferencia é que nós, heróis e vilões, fazemos o nosso dever. Nós teremos o perdão divino, pois fomos escolhidos para ser heróis e vilões. Os macacos não, eles estão lá meramente para que nós possamos engrandecer nossos atos de vilania ou heroísmo. Ou tu pensas, senhor herói, que há vilania sem as vítimas? Ou heroísmo sem os indefesos? Esse é o papel dos macacos: existir em abundância.

A essa altura você já deve estar começando a perceber o quanto estamos próximos. Nós, os vilões, e vocês, os heróis, somos os manipuladores da abundância divina. Na verdade eu não gosto da palavra "manipuladores". Prefiro "desfrutadores", mas eu não posso usá-la. Não posso, porque ao contrário dos outros vilões, que gozam da glória de terem sido escolhidos por Deus para exercer o melhor papel do Teatro Divino, o papel mais divertido e livre, com maior potêncial interpretativo, eu não gosto desse papel. Eu gosto das pessoas, eu gosto de ser gentil, senhor herói. Tu sabes o que é ser gentil? Ser polido? Tu és polido, senhor herói? Gosto dos heróis rudes, que não gostam das pessoas e do mundo, mas que fazem o certo e gosto dos vilões educados e elegantes, que, por sua vez, sabem exercer seu papel de vilão.

Senhor herói, Deus não é roteirista nem diretor da nossa peça. Deus assiste ao espetáculo com um olhar cínico e entretido. Ele gosta dos vilões tanto quanto gosta dos heróis. Mas ele só gosta se formos bem interpretados, entende? Entende o que eu quero dizer?

Faça o seu papel, senhor herói. Seja um herói, interprete o herói, pois Deus te deixou fazer isso. A mim cabe o modesto papel de vilão que será derrotado no final, para que a peça siga seu fluxo e, dessa forma, tu possas se consagrar como benfeitor supremo.

Entende agora, senhor herói? A cada vilão cabe o propósito de eternizar o seu antagonista como seu carrasco. Me ame, pois sem mim tu não és nada. É assim que Deus quer, senhor herói. Agora me dê essa arma. Me dê, e eu prometo pelo meu papel divino, que não darei a glória do meu fim a mais ninguém, se não a ti. Sairei por aí e serei o maior vilão de que já se teve notícia. Só então, futuro herói, meu papel estará cumprido, e aí sim tu poderás me matar, para que, em troca da minha vida nesse nosso pequeno desentendimento banal, tu te tornes o maior herói de todos os tempos. É isso o que tu queres, não? Mais importante ainda, é isso o que Deus quer. Foi pra isso que ele te escolheu. Agora vamos, me dê essa arma, torna-te um herói, é o nosso dever. Está tudo bem, iiisso, devagar, com cuidado. Muito bem.

Mas...

- Mas Gertrudes, tratar-se-ia de um sonho ou de uma tortura divina?
- That's very much like a dream, Uluru, it tastes like a dream. But it is not.
- That's very, very true, Gertrudes.
- E Deus não existe, lembra?
- Não, Gertrudes, Deus existe sim.
- Mas...
- Sem mas, sem mais, i'm very, very sure about it.