sexta-feira, outubro 21, 2016

mana

(ou: investigando o ciúme percebo que há janelas que são espelhos)

sem saber me colocar
não sei se falo pra saber, se calo pra entender, se escrevo pra decidir
a dúvida decide calar, a discussão da dúvida decide falar, e tudo isso acaba escrito
a busca da sensualidade é a deliberação do inferno astral

gertrudes me aconselhou a armazenar movimento enquanto viajo em direção a ti, irmã, e quem és tu?
te procurei muito na infância, quando eu era o maior emblema do teu desamparo
e veja só como são as coisas
amanhã surgirá um novo líder
(como no passado eu surgi para trazer tua ruína)
e, como reis magos, vamos ao seu encontro
nós, que sempre te desamparamos
que sempre fomos família fugida
ladrões de nós mesmos, nos tomamos de ti
e eu serei o primeiro dos reis, e te levarei birra
tu estarás me esperando, como agora esperas uma vida
(ainda tua, amanhã não mais)
esperando, com josé
o irmão, o pai, a mãe, a filha
sem irmão, sem pai, sem mãe, sem filha

terça-feira, outubro 18, 2016

arqueologia sexual

objetivos gerais:

- justiça
- ancestralidade
- pertencimento
- culpa
- liberdade

objetivos específicos:
[intuição] o que está sendo feito dos corpos no mundo neste exato momento
[autopercepção] qual o meu papel na dança desses corpos
[atenção] qual o ritmo dessa música
[ação] como entrar na dança

métodos:

sensualidade - ciúme
fantasia e microponto

constrição - disciplina
dominação - submissão
sadomasoquismo

sábado, outubro 15, 2016

genealogia de uma carona que me pediste e eu nunca dei

(ou: o corpo é a margem da troca)

naquele dia me chamaste pra invadir uma casa
transformamos ela num santuário de amor
nos comemos vivos até queimar, fodemos sujos e depois banhados
(porque as diferentes texturas e cheiros da nossa pele produzem fome de corpo humano)
invadimos um ao outro, tomamos posse das pequenas memórias
grãos de areia no deserto da infância

soubeste dos bastidores da minha arcaica miniadoração
me comeste enquanto eu dizia a fantasia que eu usava quando era mais novo para bater punheta pra ti
gozei no teu tesão em ouvir uma coisa dessas
uma memória minha tão boba e sem função
um elemento narrativo desconexo até então
um grão de areia que insiste em ser contabilizado
grão que de repente se descobriu protagonista de um monumento sexual único

pouco a pouco, fui codificando o deserto da minha ficção masturbatória em palavras confeccionadas especialmente pra ti, pra te idolatrar, mitologia do meu próprio corpo
(enquanto isso teu humor agressivava do sono à transuda ardência)

me devoraste de olhos fechados, tatuaste tua boca pelo meu corpo, babaste na minha cara, gemeste com minhas meras palavras
achei que poderia te fazer gozar só contando falando revelando idolatrando
se o corpo é a margem da troca,
o volume da corrente é a língua