domingo, janeiro 29, 2012

E se o teu amigo vento não te procurar, é porque multidões ele foi arrastar.

     "Propuseram a um sábio o seguinte problema: 'Um homem está a sós com a jovem a quem ama. A porta está fechada, os criados dormindo e o apaixonado treme de desejo. Achas que este homem, pondo-se a orar, conseguirá afastar o desejo de tomar sua amada nos braços?'. O sábio refletiu e respondeu: 'Se ele se livrar da tentação, não se livrará dos maldizentes'."

- Gertrudes, fazendo o que faz de melhor.


      "Agora, com essa versão nova do Ontonet Explorer, desenvolvida pelos bons programadores e colaboradores da AntiHelenia OntoSystems, eu tenho propriedade intelectual do adjetivo que eu quiser, e ainda posso usar o Vocative Freedom Unlimited, pra nunca mais ser interrompido quando usar um vocativo para expressar ênfase ou conectividade entre minhas mensagens. É uma pena que só você saiba disso pois, estatisticamente falando, isso implica menos usufruto da minha pilaticidade adjetivante e imunidade de vocativos. Mas creio que seja o suficiente pra mim, já que há poucas conexões seguras restantes na Ontonet."

 - Anna Kaltinti, explicando como sua técnica de escrita metanarrativa pode ser aperfeiçoada pelos programas de metapartitura de Irinieu Kontesmasz.



     "O Comitê acabou de ser informado de uma fresta na reputação do decadente Encouraçado Potemkin - agora ex-encouraçado - pela qual há possibilidade de penetrância dos Quatro Cardeais (Desdém, Logro, Ojeriza e Maldizer) presentes, posicionados e prontos na CIARHBA (Casa Imperial de Agenciamento de Recursos Humanos Bélicos e Arsenal). Há previsões de excouraçamento do ex-encouraçado."

- Augusto Casemiro, declarando sua tão requerida justificativa pela sentença de morte arbitrariamente imposta à senhorita Deneb Rhode no verão de 1852, por empalação e subseqüente exposição na Praça do Marfim por 333 dias, para o Secretário Geral de Investigação Intêncio Ausculto. Outono de 1860.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

bibelô de menina no quarto rosa sustenta a ilusão de que se é algo quando na verdade a única certeza feminina é a do não-ser.

 Legal falares isso, chega exatamente no ponto chave. Tipo, em metáforas bíblicas: o adão sabe que não é pra comer a fruta (porque disseram pra ele), mas ele vê que a eva comeu e deu pra ele comer; ele confia. Ela tem uma costela dele, afinal. E ele não pode acreditar que ela esteja agindo de forma incorreta. Na verdade, ele não quer acreditar. Ele investiu tanto! Uma costela! Está disposto a comer a maçã para provar que seu investimento é genuíno e incondicionado. Adão costuma gostar de suas feituras, afinal.
 
 Mas ela não estava lá pra ver a costela ser tirada. Ela não viu todo o sangue da cirurgia, digamos assim. Ela simplesmente foi jogada num mundo e foi dito a ela que ela é dele, e que é isso, contente-se. E é impossível pra ela contentar-se com isso. E disso o adão não sabe.
 
 ou porque é burro, ou porque é teimoso, insistente, esperançoso, tolo.
Como se fosse assim:
Enquanto ela tá falando das coisas de forma totalmente narcísica e autoenganosa, eu sei, e penso "bo-ring". E penso que tudo bem, é natural. Porque eu sei que, no fundo, a mulher quer acreditar naquilo. São as angústias dela, afinal, e não podem ser descartadas arbitrariamente.
 
A arbitrariedade é justamente o problema masculino, parece. Essa doidice de ser juiz, de esmagar o desejo feminino. Tipo como os japoneses fazem, saca, com todas as taras sexuais deles, presentes na pornografia. São sempre fantasias de dominação esmagadora.
 
A mulher causa um medo oceânico no homem. É muito difícil ser homem. muito sofrimento. muito sofrimento calado. sem direito a sofrer, sem permissões. só existem sanções pro homem. O gozo feminino é mais ou menos um pesadelo pro homem.
 
E aí quando ele vê a mulher vindo com a maçã, e dizendo "tá tudo bem", eis o calcanhar de aquiles do adão. Ele quer muito que esteja tudo bem, que tudo dê certo. Como uma criança.
 
e não vai ser assim. Porque ela não é mãe dele, sabe.
 
Agora saindo das metáforas bíblicas, é como se eu visse ela sendo manipuladora (e as mulheres em geral), mas tipo, tudo bem, não tem problema, porque eu acredito que haja sinceridade nisso também. Numa angústia que força a menina a manipular o menino, com o cenário e a produção, o figurino, a vitrine, a micropolítica, tudo. E ele acha até bonitinho, tipo: "olha até onde ela é capaz de ir por mim (e/ou por sua insegurança)".
 
Mas era realmente só um "conseguir" que existia lá. Uma mesquinharia feminina braba: sem acesso à criança-ela-indefesa. O único acesso era à eva-succubus-napoleônica (com maçã). A criança tinha morrido (pelo menos pra mim). Eu me tornara apenas um item no repertório psíquico dela, de organização das vaidades.
 
Apenas mais uma costela no seu corpo par.