segunda-feira, julho 10, 2017

obsceno não é o mesmo que vulgar. obsceno é o contrário de moralmente civilizado, enquanto vulgar é o contrário de elegante.

um pensamento é elegante quando sentimos que apresenta pelo menos um de três movimentos, a seguir:

- o coincidir
- o sincronizar
- o simetrizar

e é vulgar à medida que não apresenta ou estagna esses movimentos.

nota mental e fim da nota mental

(ou: sobre nomes, corpos, enigmas, charadas, esfinges e sexualidades)

(nota mental i)
numa charada, há um certo "espaço" para as respostas erradas que encaixam no comando mas não são a resposta pretendida

exemplo:
o que é, o que é, que é meu, somente meu, mas os outros usam mais do que eu?

a resposta pretendida aqui é "nome", mas "corpo" também obedece ao comando, também cabe na resposta, mas está nesse espaço das respostas erradas possíveis.

esse espaço que a charada gera é na verdade o espaço associativo entre as palavras

ou seja, essa charada "prova" que as palavras "nome" e "corpo" se referem a coisas tão parecidas que são quase indistinguíveis do ponto de vista linguístico.

(nota mental ii)

fôssemos nós desprovidos de olhos e sentidos, e tivéssemos somente palavras para nos guiar (como pode muito bem ser o caso no futuro), "nome" e "corpo" seriam muito difíceis de se diferenciar.

porque para as outras palavras da charada, essas são iguais.

é diferente do caso do enigma da esfinge, pois qualquer animal que se pense não é ao mesmo tempo bípede, trípede e quadrúpede.
não tem o espaço que a palavra "corpo" encontrou, no caso anterior, para se infiltrar

ao tentar responder a esfinge, tu vais sempre perceber que a tua resposta está errada, até que penses na certa. e ai tu entendes que é a certa, que só pode ser isso. e não podemos dizer "só pode ser isso" sobre a primeira charada, cuja resposta é "nome".
porque corpo também pode ser
só nao é,  mas pode

(nota mental iii)

ou seja, a resposta do enigma da esfinge, por não ter esse espaço associativo, é muito mais uma chave do que uma solução.
a resposta só podia ser dada por édipo (foi feita sob medida para ele), porque só ele tem o nome dele (sobre pés; rimando com a charada), permitindo que ele saiba a resposta a partir da observação do próprio destino.

(nota mental iv)

digamos, então, que o enigma da esfinge seja (e deve ser), de todas as charadas do mundo, a que melhor exemplifica a lógica da sexualidade.
se cada sexualidade tem sua charada feita sob medida para o indivíduo, então a esfinge é a própria sexualidade. e a resposta, então, tem que "rimar", e tem que partir do próprio destino do sujeito, como foi com "édipo" respondendo "antropos".

e daí? daí que de alguma forma essa coisa una da resposta/solução/chave desintegra a quimera.

(nota mental v)

queria testar agora se é possível pensar em outra resposta pro enigma da esfinge. digo, algum animal que burle a questão de alguma forma. pelo menos 2+3+4 dá 9, e isso é legal.