sexta-feira, agosto 09, 2019

the canibal quibe

(ou: desde sua morte, nunca mais comi um quibe ôco)

vovó sempre foi uma pessoa de poucas palavras, mas muita comida. sempre senti que tudo o que ela tinha pra me dizer, caso quisesse eu interpretar, teria que ser traduzido pela culinária, não só pela dificuldade idiomática geral, mas também pelo primor de sua linguagem específica. minha relação, então, com a comida dela, sempre foi injustamente sintomática de indignações afetivas não necessariamente relacionadas a este tópico.
ela, no fundo, só queria que eu comesse.
e ela ia longe pra conseguir isso. toda a lógica da comida árabe está em preparar os recheios e os envólucros destes. e ela era, de fato, recheada de orgulho pelo talento com que preparava seus recheios.

- vó, faz quibe ôco pra mim?
- você que é ôco

retirar o recheio de um quibe é tão impensável que nunca vi um exemplar que não tivesse sido cunhado nos dedos de vovó.

e para mim. só por frescura.

quibe por quibe, um carinho diferenciado, recheado da negação do que o faz diferente.

"eis-me aqui, quibe, forçado que sou a abdicar de minhas entranhas, para vosso caprichoso deleite"
e o quibe também disse:
"eis-me aqui, ôco, a partir dessa forma incomum, para negar o particular que te aflige"
e gloriosamente, sentenciou:
"serei, para ti, mesmo ôco, muito mais que um quibe"

vovó, hoje pensei que é isso a coisa que eu sou, né? esse mesmo quibe ôco?

segunda-feira, agosto 05, 2019

lynch dreams

1/8/19
minha casa é uma república, mas não tem ninguém.
mm... não, tem o neto.
ele frita bacon.
mm... não...
também tem uma anã.
ela não é daqui.
ela tem cara de burra.
ela parece menos humana que eu.
mas ela tem peitos imensos!
mas... eu gostava disso?
nós começamos a nos beijar.
nós estamos transando no sofá.
ela está por cima.
meu coração vai explodir.
eu gozo dentro dela horrorizado.

2/8/19
estou num carro, no banco de passageiros.
estou bolando um beck.
meu pai está no banco de motorista.
ele não está fazendo nada.
estamos no estacionamento do posto de gasolina.
a porta de trás abre.
entra um cara de óculos escuros e bigode.
ele tem coisas de ouro e roupa de bicheiro.
ele é baixo e socado.
ele grita dentro do nosso carro:
É AQUI QUE EU POSSO COMPRAR UMA BUCETA?
eu respondo que não.
papai não está fazendo nada.
ele sai do carro e imediatamente outro carro para do lado do nosso.
ele é rosa e conversível, igual o carro da barbie.
dentro dele há quatro menores de idade.
são meninas do ver-o-pêso.
elas não estão fazendo nada.
o bicheiro entra no carro.
o carro vai embora.

3/8/19
eu chego numa roda de cinco amigos
o primeiro, um amigo de infância.
lhe dou um abraço.
a segunda, uma pessoa com influência sobre mim.
lhe dou um abraço e um sorriso sem graça.
a terceira, não lembro (estava confuso depois da segunda).
me dirigi ao meu lugar na roda.
percebi que ignorei a quarta e a quinta.
(ai, me desculpem, vou dar um jeito nisso depois).
percebi que não tinha um lugar na roda para voltar.
me perguntei se tinha mesmo cumprimentado a segunda pessoa.
será que eu imaginei nosso abraço?
por via das dúvidas, a cumprimentei de novo.
por via das dúvidas, lhe dei um abraço. um sorriso charmoso dessa vez.
ela não percebeu o charme.
ninguém entendeu o que eu estava fazendo.
finalmente percebi que a cumprimentei duas vezes.
percebi que todos entendiam que eu estava nervoso.
tudo treme.
a irmã da segunda, que era a quarta, me chama para fumar um cigarro.
(era uma desculpa para me contar algo importante sobre o que estava acontecendo).
que alívio, ela é minha amiga, ela vai me ajudar.
não me lembro o que ela disse.