quarta-feira, julho 24, 2019

sabe, gertrudes, às vezes eu penso que eu poderia, ou que - dependendo da interpretação - até deveria, ter ficado contigo desde que a gente perdeu a virgindade até hoje, e, quer dizer, na verdade, principalmente por causa do teu humor, quer dizer, nem sei se, não, na verdade até sei, sei que isso não é algo tão bonito assim, mas é muito certeiro; égua, tu és muito engraçada... e eu só posso morrer junto de alguém assim! e é nessa hora, e quase que só nessa hora, que eu entendo o que significa ser um idiota. é isso, é achar que devia ter ficado depois de ter partido. me dá até uma convicção de que não pedir desculpas por isso é realmente a coisa mais ética a se fazer.

ligação

pensa ai numa coisa: quem tu achas que vai te ligar pra avisar que teus pais morreram num acidente de carro?

são um monte

-que razões existem pra me abandonar?
-que razão é essa
-são razões demais?
-são muitas razões
-é porque o meu amor é escroto?
-não, quer dizer, ele é, mas não é por isso

sábado, julho 06, 2019

cantiga de rancor

(ou: in absentia mater)

nenhuma resposta vai poder cobrir
o buraco de sentido que deixaste aqui
nenhuma sentença vai justificar
a ferida de linguagem que deixaste lá

eu só tenho tuas palavras por aqui
estão nelas minha distância de ti
tu nunca mais ouviste notícias de mim
eu não seria mencionado mesmo assim

nada nesse mundo vai satisfazer
a fome que eu sinto por você
não haverá janela que possa mostrar
o volume do rancor que eu tenho pra te dar
(unfinished)