segunda-feira, maio 02, 2016

exercício de registro, conjectura e réplica

(ou: um monte de migué que serve pra imaginar o que tu acharias da possibilidade de conversarmos pessoalmente)

são perguntas relevantes:
como estar na afonso pena sem te procurar
como escrever sem saudade
como é viver em outra cidade
como ter certeza que isso não é nada
o que é isso que não sei se ainda é ou se não é mais
como saber se há janelas mesmo ou se só vejo o que quero ver
como ter dúvida quando tudo é tão óbvio (que não)
como não achar que preciso te encontrar
como fingir que não tenho nada pra dizer
como não confundir desejo com necessidade
gertrudes, quando estamos sozinhos, fracos, quem nos acolhe não é deus, mas o diabo
como ele vai fazer para me libertar
gertrudes, o diabo me disse que soterrar a saudade não traz liberdade
e me disse que revisitá-la também não
e me disse que devemos soltar isso ao vento
e que se o vento quiser trazer isso de volta, ele traz
e que nesse caso não vai ser culpa de ninguém
como não querer que tu saibas tudo isso
que tu leias, te importe, que não menospreze
não sei o que é isso, se escondo ou mostro
eu só largo aqui e torço pra que venhas ver
mas sejamos sinceros, gertrudes
não vens aqui nunca
não moramos na mesma cidade
não confessamos aos mesmos ventos
não sentimos a mesma saudade